Noite. Por todo o largo firmamento Abrem-se os olhos de ouro das estrelas [...] Só perturba a mudez do acampamento O passo regular das sentinelas. Brutal, febril, entre canções e brados, Entrara pela noite adiante a orgia; Em borbotões, dos cântaros lavrados Jorrara o vinho. O exército dormia. Insone, entanto, vela alguém na tenda Do general. Esse, entre os mais sozinho, Vence a fadiga da batalha horrenda, Vence os vapores cálidos do vinho. Torvo e cerrado o cenho, o largo peito Da couraça despido e arfando ansioso, Lívida a face, taciturno o aspeito, Marco Antônio medita silencioso. Da lâmpada de prata a luz escassa Resvala pelo chão. A quando e quando, Treme, enfunada à viração que passa, A cortina de púrpura oscilando. O general medita. Como, soltas Do álveo de um rio transvazado, as águas Crescem, cavando o solo, - assim, revoltas, Fundas a alma lhe vão sulcando as mágoas. Que vale a Grécia, e a Macedônia, e o enorme Território do Oriente, e este infinito E invencível exércit...