cobra_enrolada.jpgPassaste por mim na rua. Passaste, toda dengosa.

E eu fui olhando e pensando: que cobra mais sinuosa.

Dás nas vistas, acredita, talvez pelo teu vestir;

queria ver-te sem roupa, e até poder-te despir!

 

Se falas, ou se murmuras, gostava de constatar.

Se sem esses artifícios, (que tu usas pra agradar),

nua de corpo e de alma, só consegues sibilar.

Se quando abres a boca, o que escorrer, é veneno;

as palavras engolidas, por esse teu corpo obsceno.

 

Tu és cobra em ziguezague, nesse teu jeito de andar.

Teu hobby é dar o bote, desprevenidos caçar;

um após outro, num lote, sem nunca mais acabar.

Quem te fez assim, foi ele? Aquele que foi embora

e te deixou, nessa hora, com o destino traçado?

Ou foi a maldita vida, a pobreza denegrida,

que te deixou nesse estado?

 

É que as cobras como tu, a gente não sabe bem,

se se perderam de amor se por não terem vintém.

Noutros tempos, o vintém, era muito bem cotado;

agora, já não se usa, «três vinténs», é desusado.

 

E fico a ver-te, pensando: Não invejo a tua vida!

Eu sou forte, vou andando; o meu pouco, vai chegando,

e de ti ... estou condoída!

Conselhos, não te vou dar. Também, não ias ouvi-los.

Hoje, tens carro, um andar; mas, já não sabes sonhar...

Os homens, queres agredi-los!

 

Tem perdidas, por aí, (das quais muita pena tenho),

que só pra terem dinheiro, põem em prática engenho

capaz de bradar aos céus. E os homens... São sempre os réus!

E terão elas razão? Eu não digo sim, nem não.

 

Mas, se os homens bem pensassem, e a oferta não aceitassem...

De que lhes serve uma oferta se ela é paga e sem valor?

Talvez por isso, o amor, está baixando as cotações.

E há um ditado que diz: "Vês caras, não corações".

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