POEMA DE NATAL: Rio de Janeiro, 1946
Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
- Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos
- Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai
- Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes.
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