MAGNIFICAT 

 Quando é que passará esta noite interna, o universo, 

E eu, a minha alma, terei o meu dia? 

Quando é que despertarei de estar acordado? Não sei. 

O sol brilha alto, 

Impossível de fitar. 

As estrelas pestanejam frio, 

Impossíveis de contar. 

O coração pulsa alheio, 

Impossível de escutar. 

Quando é que passará este drama sem teatro, 

Ou este teatro sem drama, 

E recolherei a casa? 

Onde? 

Como? 

Quando? 

Gato que me fitas com olhos de vida, 

Quem tens lá no fundo? 

É Esse! 

É esse! 

Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei; 

E então será dia. 

Sorri, dormindo, minha alma! 

Sorri, minha alma: será dia! 

 © 1933, Álvaro de Campos (Fernando Pessoa).

From: Poesia Publisher: Assírio & Alvim, Lisbon, 2002 ISBN: 972-37-0677-6.  



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